Paulo Rosa
Empresas que enfermam, empresas que curam
Sociedade Científica Sigmund Freud
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Ressaltem-se os eufemismos do título: não são, na verdade, as empresas, mas as pessoas que as “alimentam”, que têm maior ou menor potencial para enfermar(se). São essas mesmas pessoas, as quais se orientam por praticar ações no trabalho - sejam palavras, gestos, pensamentos, atitudes, ordens, despachos, portarias - mais ou menos saudáveis, com efeitos mais ou menos deletérios sobre os demais e, indefectivelmente, sobre si mesmos. Nós, trabalhadores pós-modernos, de qualquer área, temos, - ou deveríamos, - dispor de um espectro de visão sobre nosso local de atividade, que vá bem além da mera aplicação técnica de cada especialidade. Não basta que sejamos competentes, é indispensável que encontremos um suficiente bem-estar ao realizarmos a função. Essa quota de bem-estar é algo decisivo para a manutenção e desenvolvimento de nossa saúde, mental, corporal. A inexistência de bem-estar, se ocorre de maneira repetida ou na forma crônica, é causa de estresse, abre caminho para o adoecer. Na forma extrema é o esgotamento total, o burnout.
Bom recordar que o conceito ainda vigente de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1948, é o de que saúde é bem-estar, corporal, psíquico, social e espiritual. Não é mera ausência de sintomas ou de doenças. Os gestores, sejam públicos, sejam privados, devem ser os promotores primordiais dessa condição, cabendo-lhes, lógico, articular a saúde das equipes com a saúde financeira da empresa. Óbvio que não é coisa para amadores. Qualquer empresa, pequena que seja, para manter sua sanidade - no mais amplo sentido - requer a aplicação de modelos complexos para avaliar suas funções, desde os recursos tecnológicos até a gestão de pessoas, sendo esta o elemento central. Programas com tecnologia avançada são passíveis de compra, já administrar pessoas, buscando sua saúde, ou seja, bem-estar, como essência para a empresa, é algo a ser construído, dia a dia, requer estudo permanente e aprimoramento continuado.
Empresas que curam é um livro de R. Sisodia & M. Gelb, Alta Books, 2020, onde falam de “um novo jeito de fazer negócios”, onde defendem que além de “criar riqueza, ao mesmo tempo que geramos bem-estar”, p.25. São muito críticos com empresários que priorizam somente lucros, citam, p.e., J.P. Lemann, onde ele mesmo se descreve como “dinossauro aterrorizado”, p.27, e ainda reportam a Philip Morris, a maior empresa de tabaco do mundo (2021), cuja ação mata “sete milhões de pessoas todos os anos, com prejuízos à saúde de US$ 422 bilhões, em 2012...[isto é] ser louco”, p.25.
A psicanálise tem demonstrado sistematicamente os aspectos sádicos e masoquistas próprios do ser humano, em contraposição às dimensões amorosas que também nos nutrem. As tendências descritas por Sade e por Masoch, enfatizadas por Freud, precisam ser levadas em conta nos projetos para elaboração de empresas saudáveis e humanas.
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